Acidentes fatais com motoristas idosos mais que duplicam no Japão

Muitos idosos continuam dirigindo em áreas rurais, onde há pouca opção de transporte.
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Atualizado em 27/05/2018


No Japão, país que tem a população mais velha do mundo, com quase 28% de seus habitantes acima dos 65 anos, os motoristas com idade a partir dos 75 anos causaram em 2017 duas vezes mais acidentes fatais por 100 mil motoristas do que a faixa etária de alto risco, que são motoristas com idade entre 16 e 24 anos, de acordo com levantamento recente do governo do país, segundo reportagem do jornal “The New York Times”.

Entre os motoristas com mais de 80 anos, a proporção de acidentes fatais foi três vezes maior do que para os motoristas mais novos, mostram os dados.

A matéria do periódico norte-americano explica que todos os motoristas com mais de 75 anos têm suas capacidades cognitivas testadas quando renovam a habilitação. Aqueles que obtêm pontuação baixa são encaminhados para o médico e, em caso de demência, a polícia pode revogar as carteiras de motorista.

Mais de 33 mil motoristas testados no ano passado apresentaram aquilo que a polícia descreveu como sinais de obstrução cognitiva, sendo encaminhados para o médico. A polícia revogou apenas pouco mais de 1.350 habilitações, continua o “The New York Times”.

Antes de desistir de dirigir, Atsumu Yoshioka, 81 anos, percebia indícios da aproximação deste momento.

Primeiro, ele esqueceu de engatar o freio de mão durante a visita a um santuário, e o carro saiu andando sozinho. Em outra ocasião, ele dava marcha ré para sair da garagem quando trombou com uma caixa de correio. Yoshioka viu que era hora de desistir.

“Antes de causar algum acidente grave, decidi parar de dirigir, afirmou o idoso, destacou o jornal americano.

Nos primeiros meses em que parou de dirigir, Yoshioka nutriu sentimentos parecidos com uma perda profunda. “Foi quase como perder minha mulher”, disse.

Os defensores dos idosos dizem que, nas áreas rurais, eventuais medidas para afastar os idosos da direção devem ser avaliadas à luz do potencial estrago para a sua qualidade de vida.

Diferentemente de áreas urbanas como Tóquio ou Quioto, onde há muita oferta de transporte público, as opções no interior são muito mais limitadas.

Normalmente, os filhos adultos não vivem com os pais, o que os obriga a se locomoverem sozinhos.

Aqueles que defendem a imposição de mais restrições contra os motoristas demasiadamente velhos dizem que o risco de acidentes é mais importante que as preocupações com o estilo de vida. Além disso, eles dizem que o foco da lei é muito restrito às habilidades cognitivas, quando outros fatores afetam o desempenho, como a perda da visão.

O êxodo da população trabalhadora das zonas rurais fez com que haja poucas pessoas para dirigir ônibus, táxis e caminhões de entregas que poderiam dar apoio logístico aos moradores que desistem de seus carros.

Em Kawamoto, cidade de 3.333 habitantes, dos quais 45% têm mais de 65 anos, há apenas três táxis, e o serviço de ônibus é irregular. Muitos moradores “sentem a necessidade de ser independentes e proteger seu próprio estilo de vida”, disse o prefeito, Minoru Miyake.

Noboru Moriwaki, 90 anos, disse não ter planos para deixar de dirigir. Ele e a mulher, Yukiko, de 86 anos, vivem nas curvas de uma colina nos arredores de Kawamoto.

Algumas vezes por semana, Moriwaki, que se aposentou como diretor escolar, dirige seu Toyota Corolla até o mercado, banco ou biblioteca. Uma vez por mês, ele leva a mulher ao hospital.

“Se não podemos dirigir”, disse Moriwaki, “não conseguimos tocar a vida”, conclui a matéria do jornal dos EUA.

Fonte: Estadão / Via The New York Times.


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