Os governos de Japão e Coreia do Sul chegaram a um acordo histórico nesta segunda-feira (28), durante uma esperada reunião bilateral realizada em Seul, onde as duas nações asiáticas discutiram a questão das “mulheres de conforto”, como eram chamadas as coreanas forçadas a se prostituir em bordéis no tempo da guerra, um problema que atormentava as relações entre os dois países há mais de cinco décadas.
Depois de uma reunião em Seul, os ministros das Relações Exteriores dos dois países disseram que a questão das “mulheres de conforto” seria “finalmente resolvida de vez” se todas as condições forem satisfeitas.
A presidente sul-coreana, Park Geun-hye, e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, prometeram aproveitar a oportunidade para impulsionar os laços bilaterais, logo após o acordo entre os chanceleres.
O acordo será positivo para os Estados Unidos, que se esforçam para melhorar as relações entre os seus dois principais aliados asiáticos em face de uma China cada vez mais assertiva e uma Coreia do Norte imprevisível.
A tensão entre Tóquio e Seul tem impedido os dois países de assinar um acordo para compartilhar informações militares sensíveis, por isso há um ano eles firmaram um pacto de três vias, pelo qual a Coreia do Sul remete informações para os Estados Unidos, que, em seguida, as repassam para o Japão, e vice-versa.
Park disse esperar que os dois governos trabalhem por meio de um processo difícil para chegar a esse acordo. “Podem cooperar estreitamente para começar a construir confiança e iniciar um novo relacionamento”, disse Park a Abe, segundo o gabinete sul-coreano.
Abe declarou a repórteres em Tóquio que o “Japão pediu desculpas e manifestou o seu remorso”, mas reiterou sua posição de que as futuras gerações japonesas não deveriam ter que continuar a fazer isso.
“Nunca devemos permitir que esse problema se arraste para a próxima geração”, disse ele, ecoando comentários feitos durante a cerimônia que lembrou o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial em 15 de agosto.
— De agora em diante, Japão e Coreia do Sul entrarão em uma nova era.
Questões que impediam o acordo
Segundo vários historiadores, 200.000 mulheres, principalmente coreanas, mas também chinesas, indonésias e de outras nacionalidades, foram submetidas à escravidão sexual pelo exército japonês. Atualmente, restam 46 sobreviventes na Coreia do Sul.
O Japão emitiu uma declaração em 1993 expressando suas “sinceras desculpas e arrependimento” às mulheres que sofreram “uma dor imensurável, incurável do ponto de vista físico e psicológico pelos ferimentos depois de terem sido usadas como ‘mulheres de conforto'”.
Desde que ambos os países normalizaram suas relações, em 1965, o Japão entregou cerca de 800 milhões de dólares em subsídios ou empréstimos a sua antiga colônia.
Seul, no entanto, instava Tóquio para formular uma nova declaração e assim pedir “perdão às mulheres escravizadas nos prostíbulos do exército imperial”, bem como indenizar as sobreviventes.
Antes desta reunião, Park havia se negado a se sentar para negociar se o Japão não condenasse antes os crimes ocorridos durante a guerra e a ocupação, entre 1910 e 1945.
Pedido de desculpas e indenização às “mulheres de conforto”
“O Japão está dolorosamente consciente das suas responsabilidades na afronta à honra e dignidade das mulheres”, disse o chanceler japonês, Fumio Kishida, em entrevista coletiva em Seul, com o seu homólogo sul-coreano, nesta segunda-feira.
Kishida disse ainda que o Japão vai dispor em seu orçamento do governo cerca de 1 bilhão ienes (8,3 milhões de dólares) para um fundo que vai ajudar as “mulheres de conforto”, e trabalhar com a Coreia do Sul para executar um programa para restaurar sua honra e dignidade.
(Com informações das Agências Reuters, AFP e Kyodo)
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