Morre sobrevivente emblemático da bomba atômica em Nagasaki

Taniguchi era ativista do desarmamento nuclear e chegou a ser cogitado candidato ao prêmio Nobel da Paz.
Sumiteru Taniguchi em agosto de 2015 Foto Asahi AP
Sumiteru Taniguchi em agosto de 2015 (Foto: Arquivo Asahi/AP)

Sumiteru Taniguchi, um emblemático sobrevivente da bomba atômica jogada pelos Estados Unidos, em 1945, na cidade de Nagasaki, no sul do Japão, morreu na manhã de quarta-feira (30), aos 88 anos.

Taniguchi virou um importante ativista do desarmamento nuclear e chegou a ser considerado um candidato ao prêmio Nobel da Paz. Ele faleceu após uma batalha contra o câncer em um hospital na região sudoeste do Japão, informou a organização Nihon Hidankyo, que representa sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.

O então carteiro tinha 16 anos quando, em 9 de agosto de 1945 às 11H02 locais, um bombardeiro americano B29 despejou a bomba atômica na cidade do sul do Japão. Três dias depois do primeiro ataque nuclear da história, em Hiroshima, a explosão destruiu 80% dos edifícios de Nagasaki, incluindo a famosa catedral de Urakami, e provocou 74.000 mortes, pelo impacto da bomba e pelas radiações.

Dez anos depois ao ataque atômico, Taniguchi fundou um grupo com outros sobreviventes que passaram pela terrível experiência.

O ativista também era representante desde 2010 da Nihon Hidankyo, ou Confederação Japonesa das Organizações de Vítimas das Bombas Atômica e de Hidrogênio.

“Senti o chão tremer durante um momento e pensei que iria morrer. Mas me convenci de que não poderia morrer assim. Quando me acalmei, percebi que a pele do meu braço esquerdo, do ombro até a ponta de meus dedos, caía em tiras”, contou em um vídeo gravado em 2015 no hospital da Cruz Vermelha de Nagasaki.

“Como não sentia nenhuma dor, toquei as costas e vi que a minha camisa havia desaparecido. Havia algo escuro e viscoso em minha mão. Minha bicicleta estava completamente retorcida”, relatou.

Ele estava a cerca de 1,8 quilômetro de distância do epicentro da explosão e passou mais de três anos no hospital depois do segundo, bem como o último, ataque com bomba atômica na história da humanidade.

Taniguchi tinha marcas das queimaduras nas costas e ferimentos profundos no tórax.
Em 2015, durante a cerimônia pelo 70º aniversário do ataque, recordou o espantoso panorama após o bombardeio.

“Corpos carbonizados, pedidos de socorro dos prédios em ruínas, pessoas com as tripas para fora”, descreveu.

“Uma multidão de seres humanos que morria tentando encontrar água”, disse.

Na ocasião, criticou duramente a política do primeiro-ministro Shinzo Abe de tentar reforçar as prerrogativas do exército.

“As leis de defesa que o governo tenta aprovar poderiam colocar em risco nossos longos anos de esforços pela abolição da arma nuclear e romper as esperanças do hibakusha” (sobreviventes que receberam a radiação), declarou.
Sumiteru Taniguchi lutou para transmitir sua experiência até a morte.

“Mas temo que as pessoas, em particular as novas gerações, comecem a ficar desinteressadas”, disse à agência ‘AFP’ em 2003.

“Quero que as novas gerações lembrem que as armas nucleares nunca salvarão a humanidade. É uma ilusão acreditar que o guarda-chuva nuclear nos protegerá”.

No mês passado, Taniguchi acolheu com agrado a adoção do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, segundo a emissora estatal ‘NHK’.

O Tratado proíbe desenvolvimento, possessão e uso de armas nucleares. Porém, o ativista acrescentou, em nota divulgada pela ‘NHK’, que se sentia incomodado no tocante à forma que o mundo tomaria depois que todas as pessoas que experimentaram a desumanidade das armas nucleares viessem a morrer.

Fontes: Agência AFP | Canal NHK News.


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