Atualizado em 17/04/2022
No Japão antigo, a katana de um samurai representava muito mais do que uma simples lâmina, pois era um item espiritual e um símbolo de poder. É com esse senso de sacralidade que os Komiya fazem espadas de samurai desde 1786 no Japão.
Essa família é uma das últimas a empregar até hoje as técnicas tradicionais na fabricação desse icônico artefato, passadas de geração em geração.
O processo de fabricação de cada espada feita pelos Komiya pode levar vários meses para ser concluída – inteiramente à mão – e pode custar mais de US$ 2,5 mil (R$ 8 mil) as fabricadas nos tempos atuais, visto que uma lâmina forjada pelos Komiya nos tempos antigos pode valar mais de U$S 20 mil.
Porém, as espadas de samurai feitas por ferreiros famosos nos tempos em que os samurais eram a lei no Japão podem valer mais de US$ 50 mil. As mais valiosas, no entanto, são as lendárias katanas de Muramasa Sengo, o mais famoso dos ferreiros de espada no Japão e que viveu durante o século 16.
VEJA TAMBÉM
As lendárias ‘katanas malditas’ de Muramasa
Veja, a seguir, o processo de produção de uma “katana Komiya”:
1 Rezando no santuário da família
Para os Komiyas, fazer a katana é um ritual sagrado. Então, eles rezam antes de começar a trabalhar em cada espada.
2 Forjando o aço tamahagane
O material base é o tamahagane, que a família encomenda de um produtor a 160 km de distância. Tamahagane significa “joia de aço”, que é o resultado do aquecimento em alta temperatura de areia, ferro e carvão em um tradicional forno de tatara.
Depois, esse material é recoberto com argila e, então, derretido. Esse processo é chamado de Tsuchi-oki e yakiba-tsuchi.
“Como não o vemos, temos de decidir quando tirá-lo com base na cor do fogo”, diz Shiro Kunimitsu, que comanda a fabricação de espadas na família. “É simplesmente intuição.”
3 Moldando o metal
É preciso remover impurezas. Para isso, o metal é aquecido, golpeado e resfriado diversas vezes.
Cada vez que vai para a água, sua superfície oxida. A remoção dessa camada oxidada é que reduz seu grau de impureza.
Diferentes tipos de martelo são usados para isso, e vários membros da família ajudam nesta etapa, que exige muito esforço físico. Se eles pararem de martelar, o aço vai esfriar e se quebrar. Essa etapa é chamada de shita-kitae.
“Se você martelar por muito tempo, sua mão pode ficar tremendo na hora do almoço”, conta Kunimitsu.
4 Dando formato a lâmina
O martelar preciso define como será a superfície da espada e seu formato. Qualquer erro pode chanfrar e danificar a fina lâmina.
Antes de ir ao fogo pela última vez, a lâmina precisa ser revestida mais uma vez com uma mistura de argila e pedra.
Essa composição é um segredo de família e, ao lado da grossura da camada aplicada, garante que a lâmina enrijecerá corretamente.
5 Levando a lâmina ao fogo pela última vez
A lâmina está pronta para ir ao fogo pela última vez. Ela é aquecida em carvão a uma temperatura de até 800ºC.
Depois, é mergulhada em água. O resfriamento dá à lâmina sua forma curva. Isso acontece porque, conforme esfria de baixo para cima, ela se deforma e se curva. As áreas pintadas de argila não temperam, criando o hamon, tradicionais linhas sinuosas comuns no corpo das “espadas samurais”.
No passado, dizia-se que é neste momento que a espada ganha uma alma, diz Kunimitsu.
6 Modelagem final
O ferreiro inspeciona e ajusta a lâmina, tornando-a perfeitamente reta e executando o polimento básico (togi), antes de entregá-la para o togishi.
7 Assinando
A lâmina recebe o nome de seu criador, esse processo é chamado de mei-kiri. Para fazê-lo, o ferreiro usa um pequeno cinzel para assinar seu nome na lâmina, às vezes com variações, o que depende da qualidade ou estilo da espada.
8 Polimento
Mitsutoshi Komiya passou 10 anos aprendendo a polir lâminas de samurai em Tóquio. No vídeo abaixo, ele explica como poliu meticulosamente a lâmina por até dois meses até completar o processo togishi.
== Mundo-Nipo (MN)
Fonte: BBC News.
Descubra mais sobre Mundo-Nipo
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.