Existem dois livros oficiais que relatam grande parte da história do Japão, bem como a mitologia e o folclore do país: Kojiki ou Furukotofumi (Registro das coisas antigas), datado de 712, e o Nihongi ou Nihonshoki (Crônicas do Japão), datado de 720.
O primeiro a existir foi o Kojiki, que narra a criação dos deuses e do arquipélago japonês, além das famosas crônicas sobre heróis lendários, monstros, criaturas mágicas e histórias desde Buda até Daruma, entre outras tantas que parece não ter fim.
Já o Nihongi é tanto fantasioso como histórico. Seu conteúdo abrange praticamente todas as histórias sobre a mitologia e o folclore contidos no Kojiki. No entanto, elas são variáveis quando se trata do mesmo tema, mudando um pouco narração das lendas mitológicas.
O livro relata eventos históricos do século VIII e é nele que a casta Imperial do Japão baseia sua descendência. Isso porque ele relata a existência de “Jimmu”, o primeiro imperador japonês, afirmando que sua descendência provém da Deusa Ama-Terasu ou Amaterasu (Deusa do sol).
Apesar de a árvore geológica imperial japonesa ser registrada no Nihongi, não existe um registro realmente oficial sobre a existência de Jimmu. Contudo, a maioria da nação japonesa prefere de acreditar que seus soberanos realmente descendem dos deuses, e a necessidade de existir um registro histórico oficial seria apenas uma “mera formalidade dispensável”.
No geral, os dois livros contêm quase que propriamente os mesmos mitos e lendas, sendo que o Nihongi tem um conteúdo um pouco mais histórico. No entanto, algumas relatos diferem em alguns aspectos. É por esse motivo que encontramos mais de uma versão sobre uma mesma lenda. Apesar de haver algumas contradições nas características e aparências de alguns personagens, a essência das histórias permanece com o mesmo teor.
Temos o caso do monstro mitológico Yamata-no-orochi, que tem suas descrições relatadas diferentemente em alguns aspectos. Em um dos livros, diz que o monstro possuía oito cabeças de dragão, enquanto que no outro relata a criatura com oito cabeças de serpente e oito caudas.
Confira abaixo duas versões sobre o monstro Yamata-no-orochi, que foi destruído pelo Deus Susa-no-o ou Susanoo (Deus das Tempestades – O Varão Impetuoso).
Primeira Versão
Conta que o deus Susanoo, arrependido das maldades cometidas contra sua irmã, a deusa Amaterasu”, decidiu corrigir-se logo após ser castigado pelos deuses. Então foi até a Região de Izumo, onde o Dragão de oito cabeças Yamata-no-Orochi há tempos cometia atrocidades contra o povoado, e o desafiou. Após ter vencido a batalha, Susanoo encontrou na calda do dragão a espada sagrada Kusanagi Tsurugi (cortador de Grama).
Decidido a purificar-se, ascendeu novamente aos céus de encontro ao palácio celestial do sol, lar de sua irmã Amaterasu, e ofereceu a espada com o propósito de ser perdoado por seus atos atrozes.
Segunda Versão
Conta que Susanoo, após ter descido dos céus, aterrissou na província de Izumo. Depois de pouco caminhar, começou a ouvir um choro que ressoava pelos ares e curioso seguiu a procurar quem regia tal lamento. Deparou-se com um casal de anciãos e uma jovem a qual acariciavam como se estivessem se despedindo e nunca mais fossem vê-la novamente.
Susanoo perguntou ao casal quem eles eram e porque choravam tanto. Então o velho respondeu: “Eu sou uma divindade da Terra e me chamo Ashi-nadzuchi (velho do pontapé). Esta é minha esposa, Te-nadzuchi (velha do soco) e esta é minha filha, Kushi-nada-hime (linda princesa Inada)”. Depois das apresentações feitas, o velho pôs-se a explicar o motivo dos lamentos: “Estamos chorando porque todo ano uma filha nossa é devorada pela serpente de oito cabeças, já perdemos sete e agora é a vez da Princesa Inada.
Depois de ouvir a triste história, Susanoo reparou que a princesa era exuberantemente linda. Consternado com a desgraça do casal de anciões e ao mesmo tempo interessado pela bela jovem, propôs-se matar a serpente e pediu a princesa em casamento como recompensa. O casal ficou feliz e prontamente aceitaram a proposta.
Com o intuito de esconder a princesa da serpente, Susanoo transformou-a em um pente e o colocou em seus cabelos. Mandou o casal de anciões prepararem uma grande quantidade de saquê, colocou em oito barris e ficou esperando a serpente.
Não tardou a chegar o monstro de oito cabeças, oito caudas e olhos vermelhos como cerejas. Seu comprimento era tão grande que ocupava oito colinas e oito vales.
Quando o monstro chegou, logo avistou o saquê e seguiu na direção dos barris. Entretanto, as oito cabeças encontraram obstáculos para chegar ao saque devido ao tamanho, mas conseguiram após a colaboração entre si das oito cabeças que, por sua vez, tinha um líder.
Assim que chegou ao saquê, o monstro logo colocou cada uma de suas cabeças em cada um dos barris e pôs-se a beber com avidez. Ficou completamente embriagado e adormeceu.
Aproveitando a situação, Susanoo desembainhou sua espada de oito palmos e começou a cortar a fera em pedaços. Depois de decepar todas as cabeças, direcionou sua espada para as caudas, e logo reparou que a lâmina ficou cega quando bateu em uma delas. Susanoo se abaixou para verificar e achou uma espada chamada Murakumo-no-Tsurugi (Colhedora de Nuvens), também conhecida por Kusanagi-Tsurugi (Cortador de gramas). Sabendo que se tratava de uma espada sagrada, deixou aos cuidados dos Deuses.
Após ter derrotado Yamata-no-Orochi, o deus Susanoo desfez a transformação do pente que voltou a sua forma natural – a linda princesa Kushi-nada-hime – e seguiram para a província de Suma, onde o heroico deus construiu um majestoso castelo nas nuvens e logo após celebrou seu casamento com Kushi-nada-hime.
A espada que Susanoo encontrou em uma das caudas de Yamata-no-Orochi existe de fato, e faz parte dos Três Tesouros Sagrados do Império Japonês: Espada Tsurugi, Espelho Kagami e Jóias Magatama. Cada um desses três objetos tem sua lenda histórica e todas relacionadas aos deuses.
Susanoo na cultura popular popular japonesa
Esse deus tempestuoso tornou-se muito popular entre os jovens, sendo amplamente integrada na J-pop (cultura popular japonesa. Ele é tema de obras literária tanto antigas como atuais, bem como em peças de teatro, produções cinematográficas, animes e mangás (desenhos animado e quadrinhos japoneses), além de games.
Por Maria Rosa (artigo originalmente criado em 2006)
Principais fontes de pesquisa
Livro: Myths and Legends of Japan | Autor: F. Hadland Davis;
Livro: Japan “Dictionary Culture and Civilization” | Autores: Frederic Louis David e Alvaro Iwang.
Atualizado em 01/10/2020.
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