Atualizado em 30/08/2023
Konohana sakuya Hime (Florescente e radiante como as flores das árvores) é o nome mitológico japonês para a Deusa do Monte Fuji, também chamada de Sakuya Hime ou de Sengen-sama.
No cimo do Monte Fuji ou Fuji-no-Yama (a montanha de Fuji) está situado o templo Sengen-sama, onde é cultuada a Deusa do Fuji. Dizem que, em tempos antigos, essa Deusa pairava em uma nuvem luminosa acima da cratera, assistida por servos invisíveis aos olhos dos mortais, prontos a atirar em suas profundezas qualquer peregrino que não tivesse um coração puro.
Na mitologia japonesa, Konohana Sakuya Hime, ou somente Sakuya Hime, é a filha do Deus da montanha Ohoyamatsumi e neta da famosa Deusa Amaterasu, filha de Izanagi e Izanami, deuses criadores do arquipélago japonês. A Deusa Sakuya Hime acumula vasto simbolismo em sua mitologia, que incluiu saúde, longevidade e compaixão. A Deusa também representa o amor efêmero, especialmente porque um de seus símbolos é a sakura (flor de cerejeira), cuja floração dura apenas uma semana.
VEJA TAMBÉM
⇢ Izanagi e Izanami, deuses criadores do arquipélago japonês
⇢ Deusa Amaterasu
Konohana na Mitologia
De acordo com relatos no livro Kojiki ou Furukotofumi (registro das coisas antigas), datado de 712, a deusa é referida como princesa Sakuya Hime, esposa do deus Ninigi no Mikoto e dona de uma beleza inigualável. Nesta parte da “história”, ela era tão somente a deusa protetora das árvores de das flores, em especial as cerejeiras.
Diz-se que Sakuya e Ninigi se conheceram no litoral, logo após o deus ter chegado dos “céus”, à mando de sua mãe, a Deusa Amaterasu. Nesse mesmo dia, eles ficaram completamente apaixonados. Ninigi foi então pedir a mão de Sakuya Hime ao deus Ohoyamatsumi que, por sua vez, propôs a Ninigi se casar com a filha mais velha, a princesa Iwanaga, mas Ninigi estava decidido por seu amor. Ohoyamatsumi relutou, mas acabou aceitando o casamento entre Ninigi e Sakuya.
Por Ningi ter rejeitado Iwa, deusa das pedras e totalmente desprovida de beleza, a vida humana tornou-se curta e efêmera como as flores da cerejeira. Antes disso, a vida dos seres humanos na Terra era estável e duradora como as pedras.
O Kojiki conta que, em apenas noite, Sakuya Hime engravidou, isso fez com que Ninigi desconfiasse da fidelidade da esposa. A desconfiança deixou a bela deusa enfurecida. Ela então se trancou em uma cabana sem porta, onde ateou fogo. A deusa prometeu que, se seu filho saísse ileso, era porque sua descendência era verdadeira. E assim, na cabana em meio as chamas, Konohana deu à luz a três filhos: Hoderi, Hosuseri e Hoori.
Protetora do Monte Fuji
Em relatos posteriores no Kojiki, Sakuya Hime aparece como Deusa protetora do Monte Fuji e neta de Amaterasu – um conflito de relatos muito comum que também envolve outros deuses nesse importantíssimo livro da mitologia japonesa. Nos relatos seguintes, Konohanasakuya-hime passa a ser vista como heroína porque seus filhos sobreviveram a uma cabana em chamas.
Ao longo dos anos, santuários foram erigidos e dedicados a essa deusa aos pés do Fuji-san. Seus seguidores e sacerdotes dos templos xintoístas acreditam que Konohanasakuya-hime mantém inativo o vulcão da venerável montanha. Mediante isso, a deusa ganhou uma data em sua homenagem, que é celebrada todo dia 23 de novembro.
Por conta de sua importância na mitologia japonesa, existe muitas lendas sobre essa bela Deusa, que dizem ser a própria alma da esplendorosa montanha, cuja origem é relatada como a mais fantástica entre todos os antigos contos japoneses. Contam que, em tempos longínquos, o sagrado Fuji-san surgiu da noite para o dia.
Lendas
Uma famosa história envolvendo o Fuji-san e a Deusa do Fuji relata sobre os poderes de cura da Deusa, que ajuda os necessitados, mas somente os de coração verdadeiramente puro.
E coração puro tinha o jovem Yosoji que, em tempos antigos, encontrava-se desesperado pela mãe que estava enferma, acometida de varíola, como tantas outras pessoas na aldeia em que ele e sua mãe viviam.
Yosoji, então, resolveu consultar o místico Kamo Yamakiko, uma espécie de feiticeiro da aldeia, sobre o que fazer para a sua mãe melhorar, pois a qualquer momento poderia ser arrebatada pela morte.
O feiticeiro mandou Yosoji ir a um regato que descia do lado sudeste do Monte Fuji e disse: “Perto da nascente deste regato está o altar do Deus da Longa Vida. Tome dessa água e dê para sua mãe beber. Isso bastará para curá-la, concluiu o feiticeiro”.
Cheio de esperança, Yosoji encetou marcha rumo ao regato e, quando chegou a uma encruzilhada, ficou em dúvida quanto à direção tomar. Enquanto ponderava a respeito viu que dele se aproximava, vinda da floresta, uma linda jovem vestida de branco.
A beleza e delicadeza da moça deixou Yosoji com corpo e mente paralisados, tanto que mal conseguia entender o som melodioso entoado nas palavras da bela jovem, que dizia para ele segui-la até o lugar onde nascia o precioso regato junto ao altar do Deus de Longa Vida.
Uma vez no regato, a moça pediu para Yosoji beber aquela água borbulhante e depois encher uma cuia para levar à mãe enferma. Isso feito, a linda jovem o acompanhou até o ponto que haviam se encontrado e disse: “Encontre-me neste mesmo lugar dentro de três dias, porque você precisará de mais doses desta água”.
Depois de cinco visitas ao local sagrado, Yosoji exultou ao ver que sua mãe estava muito bem, como muitos dos aldeões que tiveram o privilégio de beber daquela sagrada água. A bravura de Yosoji foi proclamada em alto e bom tom, juntamente com o feiticeiro que recebeu muitos presentes devido a seu conselho oportuno.
Yosoji, porém, que era uma pessoa honesta, no fundo de seu coração sabia que todo louvor cabia à linda jovem que havia sido seu guia. Desejava agradecer-lhe muito e, com essa finalidade, uma vez mais rumou para o regato.
Ao chegar ao altar do Deus da Longa Vida, viu que o regato havia secado. Muito surpreso e com grande tristeza no coração, ajoelhou-se e pediu que aparecesse aquela que havia sido tão boa para sua mãe, pois o que ele mais desejava era poder agradecer tanto quanto ela merecia.
Após a súplica, Yosoji levantou a cabeça e viu a moça diante de si. Então, com palavras elegantes e sinceras, expressou toda a sua gratidão. Pediu a ela, que havia sido seu guia e a quem devia o restabelecimento de sua mãe, dissesse como se chamava. Porém, a jovem, embora sorrisse docemente, calava seu nome.
Sempre sorrindo, ela sacudiu no ar um galho de camélia e pareceu que as belas flores acenavam para algum espírito invisível que estavam à distância. Em resposta ao aceno florido, desceu uma nuvem do Monte Fuji que envolveu a linda jovem e a transportou para amontanha sagrada de onde ela viera.
Dado esse fato, Yosoji ficou sabendo que a Deusa do Fuji fora sua guia. Ajoelhou-se em êxtase, observando a figura que partia e teve consciência de que, além de agradecimento, em seu coração existia amor.
Durante a ascensão, a Deusa do Fuji lhe atirou o galho de camélia. Uma lembrança ou talvez um sinal de que ela o amava também.
Veja abaixo um dos mais famosos poemas sobre o Monte Fuji:
Fujiyama,
Tocado por seu hálito divino, retornamos à forma de Deus.
Teu silêncio é canto, teu canto é o canto do Céu.
Nossa terra de preocupação e febre se transforma em um lar de evidente doçura numa morada distante da terra onde homens nascem apenas para morrer.
Nós, filhas e filhos japoneses, enaltecendo sua serena majestade, o orgulho de Deus, imprimimos nossas sombras em teu seio, o mais suave lugar da eternidade.
Ô maravilha de face branca, ô sublimidade, ô beleza!
Mil rios carregam tua sagrada imagem no espelho de suas águas.
Todas as montanhas erguem-se para ti como maré que sobe na esperança de ouvir teu comando.
Veja! Os mares que circundam o Japão perdem toda a sua agressividade, bafejados por um vai-e-vem de berços.
À vista de tua sombra, como alguém em um sonho poético, perto de ti esquecemo-nos de morrer.
A morte doce e a vida mais doce que a morte.
Somos mortais e também deuses, tuas inocentes companhias .…
Ó Fuji imortal!
(Poema de Yone Noguchi)
Por Maria Rosa (artigo criado originalmente em 2008)
Fontes principais de pesquisa
• Livro Legends of Japan
• Livro O Japão – Dicionário e Civilização
• Site Asahi Shinbum.
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