O brasileiro Carlos Ghosn, ex-executivo das montadoras Renault e Nissan, foi libertado nesta quarta-feira (6) da prisão de Kosuge, em Tóquio, depois de passar mais de 3 meses detido por fraude financeira.
Vestindo macacão, um boné azul e uma máscara cirúrgica – comumente usada pelos japoneses -, Ghosn deixou a prisão cercado por guardas e entrou em um carro diante de uma multidão de jornalistas e curiosos que aguardavam no local.
Sua esposa Carole, uma de suas filhas, o embaixador da França e outras pessoas chegaram algumas horas antes na prisão de Kosuge, mas não saíram no mesmo momento que Ghosn.
Há pouco mais de um mês, Ghosn trocou a equipe que o defendia. Os novos advogados conseguiram da corte de Tóquio a liberdade mediante pagamento de fiança no valor de um bilhão de ienes, cerca de 9 milhões de dólares, equivalente a R$ 34 milhões.
O tribunal de Tóquio aceitou em definitivo na terça-feira o pedido de liberdade do empresário, depois de rejeitar um recurso de apelação da Promotoria.
Em um comunicado, Ghosn se declarou “infinitamente agradecido” aos amigos e parentes pelo apoio.
“Sou inocente e estou realmente decidido a defender-me vigorosamente em um julgamento justo contra estas acusações sem fundamento”, declarou.
Ele é “um homem muito marcado por esse episódio”, mas que tem “a firme vontade de lutar para reconhecer sua inocência e recuperar sua dignidade”, afirmou na tarde desta quarta-feira à RTL o advogado da família Ghosn, François Zimeray.
No Japão é incomum que uma pessoa acusada de abuso de confiança consiga a liberdade antes da definição da data de seu julgamento ou até mesmo antes do início do processo.
Analistas explicaram que o novo advogado de Ghosn ofereceu garantias que convenceram o juiz de que o empresário franco-libanês-brasileiro não estaria em condições de destruir provas ou sair do país.
Para conseguir a libertação de seu cliente, o novo advogado de Ghosn, Junichiro Hironaka, sugeriu uma vigilância por câmeras que o réu tenha meios de comunicação limitados com o exterior.
“Apresentamos a proposta de um dispositivo que torna impossível uma fuga ou a supressão de informações”, insistiu Hironaka na terça-feira.
Segundo Zimeray, Ghosn teve “as comunicações (em sua casa) interceptadas, não tem acesso à internet e seus passaportes foram confiscados”. Além disso, ele não pode discutir alguns assuntos com sua família.
Questionado sobre a possibilidade de que Ghosn conceda uma entrevista coletiva, Zimeray disse: “não acho que isso plausível no curto prazo, porque é um homem que precisa de readaptar a uma vida normal”.
Em tese, de acordo com juristas, a Promotoria ainda tem a possibilidade de voltar a pedir a detenção do homem que já foi diretor geral das montadoras Nissan e Renault com base em outras acusações, mas parece que há poucas probabilidades de que isto aconteça.
Descontente com a rejeição dos pedidos de liberdade sob fiança anteriores, Carlos Ghosn decidiu mudar em fevereiro sua equipe de defesa, antes de abordar a fase de preparação do julgamento, que deve acontecer dentro de alguns meses.
“Estou impaciente por poder fazer minha defesa, com vigor, e esta escolha representa a primeira etapa de um processo que não apenas busca restabelecer minha inocência, mas também jogar luz sobre as circunstâncias que levaram a minha detenção injusta”, afirmou Ghosn na ocasião.
A libertação permitirá a Ghosn “defender-se livre e soberanamente”, opinou o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire.
“É essencial proteger o princípio da presunção de inocência e dar a cada um a possibilidade de defesa nas melhores condições possíveis”, completou o ministro francês.
Ghosn, que já foi venerado no Japão por ter salvado a Nissan de uma suposta falência, foi detido em 19 de novembro em Tóquio e enviado para o centro de detenção de Kosuge, zona norte da capital.
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O empresário é acusado de apresentar declarações de renda falsas às autoridades da Bolsa de Valores e de abuso de confiança em detrimento da montadora Nissan, onde teve início a investigação.
O executivo considera que foi vítima de um “complô” da Nissan para provocar o fracasso de seu projeto de aproximação com a Renault.
“A Nissan não desempenha nenhum papel nas decisões tomadas pelos tribunais ou os promotores e não está em posição de fazer comentários”, afirmou o grupo em um comunicado.
“As investigações realizadas a nível interno pela Nissan mostraram comportamentos (de Ghosn) expressamente contrários à ética […] e outros fatos que seguem aparecendo”, completa a nota da montadora, que foi comandada a partir de 1999 por Ghosn, que salvou a Nissan da falência.
A libertação de Carlos Ghosn “não tem consequências para os negócios da Nissan”, afirmou o atual diretor geral do grupo, Hiroto Saikawa.
Mundo-Nipo
Fontes: Reuters | France Presse.
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