O Japão está no ano 30 da era Heisei, o trigésimo ano do reinado do imperador Akihito. Com sua abdicação no final de abril de 2019, o país se prepara para a mudança de era.
Geralmente, o nome da nova era é anunciado apenas alguns dias após a morte do imperador, um evento em essência imprevisível, conforme ocorreu em 7 de janeiro de 1989, quando o imperador Hirohito morreu. Nesta época, Japão estava no 64º ano da era Showa (1926-1989), que se tornou a noite do ano inaugural da era Heisei, que deu início ao reinado de Akihito.
Desta vez, a mudança de era não será feita por causa da morte de um imperador e sim por conta de uma abdicação ao Torno do Crisântemo, o que era proibido até o ano passado. Contudo, uma lei de exceção, anunciada este ano pelo Governo em acordo com a Casa Imperial, autoriza o 125º Imperador do Japão, Akihito, 84 anos, a passar a coroa ainda em vida, tudo tem sido planejado com antecedência e o nome da nova era deve ser anunciado antes de 1º de maio, quando seu filho mais velho, Naruhito, subirá ao Trono de Crisântemo.
Será muito tarde para que o nome da nova era apareça nos calendários de 2019, que deve figurar nas publicações de 2020, segundo espera Kunio Kowaguchi, presidente da empresa Todan, que fabrica a cada ano 10 milhões de calendários no Japão.
Setores da administração pública, escolas e hospitais que utilizam documentos que mencionam a era, juntamente com o calendário gregoriano, também terão tempo para se organizar.
Japão possui 250 eras
A prática da utilização das eras (gengo, em japonês) tem suas origens na China antiga, mas continua em vigor no Japão, segundo historiadores. O país conheceu cerca de 250 eras, muito mais do que o número de imperadores, isso porque era costume mudar os nomes para marcar um novo começo após desastres naturais ou outros eventos importantes.
A escolha do nome das eras é feita de acordo com um processo rigoroso que não depende da Casa Imperial, mas do Governo. O termo selecionado deve ser novo, refletindo os ideais da nação. “Heisei” significa, por exemplo, “cumprimento da paz”, e obedece a algumas regras: deve ser composto de dois ideogramas, ser fácil de escrever e ler, além de evitar nomes comuns de pessoas, empresas ou lugares.
Segundo especialistas, o nome da nova era, provavelmente, não começará com as letras M, T, S e H, já que estas já aparecem em muitas eras do Japão moderno (desde 1868), como Meiji, Taisho, Showa e Heisei.
Os japoneses se divertem fazendo previsões numa atmosfera que contrasta com o clima sério dos últimos meses da era Showa, quando o ex-imperador Hirohiro lutou contra a morte, diz Junzo Matoba, um alto funcionário que trabalhou em silêncio durante as pesquisas para a designação da nova era.
“Alguns achavam que era falta de respeito preparar a próxima era enquanto o atual imperador ainda estava vivo”, diz o octogenário Matoba. “Eu tive que trabalhar em segredo”, conta. Ele se lembra de consultas delicadas com os especialistas, com o ego às vezes excessivo – eles acreditavam que eram o “Monte Fuji”, diverte-se o funcionário.
“Eu me senti preso em uma tarefa tão difícil, com uma espada de Dâmocles sobre a minha cabeça”, disse, numa referência ao antigo mito grego, uma metáfora do perigo que se corre quando se relaciona com o poder.
Essa mudança de era é a primeira a ocorrer com a presença da ciência da computação. Alguns temem um “bug”, como o esperado no momento da transição para o ano 2000.
“Mas a diferença com o problema do ano 2000 e a mudança da era anterior é que as tecnologias agora são usadas em toda parte e que a informação circula também via Internet, com equipamentos adaptados “, comenta Kazunori Ishii, porta-voz da Microsoft no Japão.
Recomeçar do zero
Entretanto, mesmo se o sistema de mudanças de eras é complicado, poucos japoneses hoje o questionam. O dono da empresa que fornece os calendários no Japão chega a defender essa prática. “É mais fácil lembrar o passado com eras: por exemplo, lembramos que a bolha estourou no início da era Heisei”, diz Kowaguchi, referindo-se ao colapso da economia japonesa nos anos 1990.
Nos últimos meses, jornais e revistas multiplicaram as retrospectivas sobre os 30 anos da era Heisei, que começou com a queda do Muro de Berlim e o lançamento do popular Gameboy Nintendo, mas também palco de dramas, como o terremoto e o tsunami de março de 2011, ou o ataque com gás sarin da seita Verdade Suprema no metrô de Tóquio, em 1995, o que resultou na morte de 13 pessoas e deixou mais de 6 mil intoxicados, com dezenas em estado vegetativo.
Após a execução em julho dos 13 japoneses condenados à morte pelo ataque com gás sarin, a imprensa local alegou que as autoridades haviam escolhido acabar com essa história sombria antes do advento de uma nova era. “Os japoneses adoram começar do zero – uma nova era, um novo estado de espírito”, diz Matoba.
Com informações da RFI Brasil
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