Um extenso e importante manuscrito com as memórias do imperador japonês Hirohito, cujo conteúdo ajuda a esclarecer o papel do Japão na Segunda Guerra Mundial, foi arrematado por US$ 275 mil em um leilão realizado ontem (6) em Nova York.
Com relatos ditados a um dos assessores de Hirohito em 1946, o documento manuscrito foi comprado por um famoso cirurgião japonês que foi criticado por elogiar nazistas e minimizar as atrocidades de guerra do Japão, adianta a agência de notícias ‘Reuters’.
Katsuya Takasu, que participa de programas de televisão japoneses com frequência, foi criticado por um organismo de direitos humanos judeu, o Centro Simon Wiesenthal, por violar “todas as normas da decência” desdenhando o Holocausto e o massacre de Nanjing, na China, que rotulou de fabricações.
“Acho que Nanjing e Auschwitz são fabricações”, disse Takasu em uma mensagem publicada no Twitter em outubro de 2015. “Não havia dúvida de que os judeus foram perseguidos”, ele tuitou, mas também elogiou as contribuições de cientistas nazistas para a ciência, a medicina e outros campos.
Contactado pela ‘Reuters’ nesta quinta-feira (7), Takasu disse ter comprado o documento manuscrito, conhecido como o “Monólogo do Imperador”, porque acredita que ele contenha uma mensagem aos membros da realeza e ao povo japonês e deveria ser mantido no Japão.
O documento registra acontecimentos que remontam aos anos 1920, como a determinação de Hirohito de não se opor a futuras decisões do gabinete, e causou sensação ao ser tornado público em 1990, ressuscitando um debate sobre a responsabilidade do monarca pela guerra.
O relato foi ditado a um dos assessores de Hirohito em 1946, quando o Japão derrotado estava ocupado por forças dos Aliados e o imperador enfrentava a perspectiva de ser julgado como criminoso de guerra – uma medida que acabou não sendo tomada.
Em uma entrevista por telefone, Takasu disse que suas postagens em redes sociais foram mal interpretadas intencionalmente. Da Agência Reuters Brasil.
Imperador Showa
Ao falar da era Showa, remetemo-nos naturalmente ao imperador Hirohito – nome que usava quando vivo -, que teve o mais longo dos governos no Japão moderno. De 1926 até 1989, portanto, por 63 anos o Imperador Showa governou um país que passou por uma guerra mundial, a responsabilidade e o peso da derrota, inclusive experimentando os horrores da bomba atômica, seguida de um intenso trabalho para a recuperação do país.
Logo após o término da guerra, em agosto de 1945. o imperador, até então considerado uma divindade, descendente da Deusa Amaterasu, declara ser um homem de carne e osso.
Falando pelo rádio para todo o país afim explicar a derrota, e mais tarde, caminhando pelos destroços e pedindo para que o povo tivesse esperança para reconstrução, ele assumiu a condição de um ser humano. Foi a primeira vez que a população japonesa ouviu ou viu seu líder de perto.
Todas as contradições do Japão estiveram presentes na era Showa. De nação bélica, o Japão se tornou um país pacífico, cujo espírito provém inclusive da cláusula na Constituição do país imposta após o término da Segunda Guerra Mundial.
Sob o Artigo 9º da Constituição, o Japão renunciou para sempre o direito de declarar guerra e baniu as Forças Armadas, embora sucessivos governos tenham interpretado que o artigo permite uma força exclusivamente para autodefesa.