O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), fez concessões durante sua participação na Cúpula do G20 realizada em Osaka, no centro-oeste do Japão, depois de desembarcar no país com o discurso de que o Brasil não aceitaria ser advertido por outros países membros do grupo. Porém, ele deixou Osaka com sentimento de missão cumprida ao ver Mercosul e União Europeia (EU) chegarem a um consenso sobre o acordo de livre-comércio, anunciado em Bruxelas.
Na tarde de quinta-feira (27), o desembarque no Japão foi turbulento, visto que um militar integrante da equipe de apoio à comitiva presidencial havia sido preso na Espanha com 39 kg de cocaína e líderes europeus o cobravam por sua política ambiental, um dos principais temas da cúpula.
Aliado de primeira ordem, o general Augusto Heleno (GSI), comentou na ocasião que se tratava de “falta de sorte” a coincidência da prisão do sargento Manoel Silva Rodrigues com o início do G20.
O clima desfavorável mudou ao longo dos três dias em que Bolsonaro esteve no Japão. Ele se deixou convencer por auxiliares a fazer algumas concessões como sentar para conversar sobre clima com o presidente francês, Emmanuel Macron, a quem convenceu que o Brasil permaneceria no Acordo de Paris. O encontro entre os dois se deu em meio a um vaivém nas agendas e versões divergentes das comitivas.
Dias antes, Macron ameaçou não firmar o acordo entre a UE e o Mercosul se esse compromisso não fosse feito. No sábado, quando o G20 chegava ao fim, o francês disse em entrevista que o comprometimento do Brasil sobre clima foi “a verdadeira mudança” para conclusão das negociações.
Ainda era madrugada em Osaka quando, em Bruxelas, a União Europeia e o Mercosul anunciavam que, após 20 anos de tentativas, tinham selado um acordo de livre-comércio.
A notícia transmitida a Bolsonaro pela equipe de ministros que estavam na Bélgica mudou seu humor. Ele pediu que seus assessores organizassem uma entrevista coletiva logo para a manhã, na sua chegada ao G20.
O presidente deixou para trás o tom ríspido com que respondeu aos questionamentos na sua chegada e disse ter “evoluído” e passado a gostar mais da imprensa. Mostrou-se aberto a perguntas e só saiu da sala porque assessores o lembraram que ele tinha uma agenda marcada.
Durante a entrevista, Bolsonaro reconheceu que fez outra concessão: deixou de lado o plano de pedir que lideres dos Brics incentivassem uma mudança de governo na Venezuela.
O presidente planejava tratar sobre o assunto em seu breve discurso na reunião do grupo. Foi aconselhado a mudar, avisado de que isso poderia trazer indisposições.
Entre os integrantes, Rússia e China apoiam o regime de Nicolás Maduro.
Bolsonaro disse na entrevista ter deixado de fora sua fala sobre Venezuela para “não polemizar” com Putin.
“Eu estava na presença do presidente da Rússia e eu vi que não era o momento de ser um pouco mais agressivo”, disse
Outra concessão foi aceitar a inclusão em seu discurso de termos como a defesa do multilateralismo, fortemente criticada pela ala ideológica que integra seu governo.
Apesar de algumas concessões, o presidente manteve o tom crítico sobre questões climáticas.
Ele disse ter falado à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que existe uma “psicose ambientalista” contra o Brasil. Como resposta, Bolsonaro disse ter recebido um “arregalar de olhos” da chanceler, que dias antes disse estar preocupada com o desmatamento no Brasil.
Durante o G20, Bolsonaro teve participação acanhada e suas expressões físicas demonstraram por diversas vezes o desconforto no ambiente.
O presidente brasileiro chegou e saiu sozinho da fotografia oficial da cúpula. Mesmo após receber um aperto de mão de Macron, manteve-se sisudo no canto. As imagens transmitidas no centro de imprensa do evento mostravam um presidente sério e calado, diferentemente de suas interações com o público, em que Bolsonaro demonstra descontração.
O encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi o momento em que ele ficou mais confortável. Os dois trocaram uma série de elogios e Bolsonaro ouviu do americano que ele é “um homem especial e muito amado pelos brasileiros”.
Bolsonaro teve no total sete compromissos com lideres do G20. Além de Trump, Macron e Merkel, ele teve bilaterais com Shinzo Abe (Japão), Lee Hsien-Loong (Singapura), Narendra Modi (Índia) e Mohammed bin Salman (Arábia Saudita).De última hora, uma conversa com o presidente chinês, Xi Jinping, foi desmarcada por atraso na agenda de seu contraparte.
Além da agenda oficial do evento, Bolsonaro visitou o comércio de Osaka e comprou um colar de nióbio, tema recorrente em sua fala.vAvesso à gastronomia japonesa, aproveitou o único dia de agenda livre para jantar em uma churrascaria.
“Com todo respeito ao povo japonês aqui, para quem come churrasco australiano e brasileiro, há uma enorme diferença”.
O presidente disse ter conversado sobre a iguaria brasileira com japoneses, numa tentativa de convencê-los a comer o prato. “Estou aguçando curiosidade deles para comer churrasco brasileiro. Quem sabe nosso comércio de carne cresce”, brincou.
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