Governadora de Tóquio desafia a elite política do Japão

Koike está cada vez mais perto de se tornar a primeira mulher a comandar o Japão.
Yuriko Koike em maio de 2017 Foto Reuters Kyodo
Foto: Reuters/Kyodo

A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, desafiou a elite política masculina no Japão ao lançar seu recém-formado partido na corrida às eleições gerais do país, que foram antecipadas pelo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe para 22 de outubro.

Muitas vezes apontada como provável primeira mulher a liderar um executivo japonês, Koike garantiu que seu recém-formado Partido Esperança e aliados “não estão se lançando nas eleições para acabar como partido da oposição. “Esta eleição é sobre ganhar poder”, garantiu ela a repórteres em Tóquio nesta sexta-feira.

Depois de se reunirem nesta manhã, Koike e Seiji Maehara, líder do oposicionista Partido Democrático, oposição tradicional ao Partido Liberal Democrata (PLD) de Abe, confirmaram que vão acelerar a seleção dos membros democráticos como candidatos pela legenda Esperança.

A liderança do Partido Democrático confirmou que não irá laçar nenhum candidato nas eleições, mas irá permitir que seus membros apresentar-se sob as cores da nova formação da sigla, criada oficialmente só na quarta-feira.

Maehara disse que deseja que todos os candidatos sejam aprovados, mas que compreende a realidade da situação.

Ele afirmou que as decisões serão baseadas em se os candidatos concordam com as ideias e políticas do Partido Esperança e se eles podem conquistar vagas em distritos de representação única.

Por sua vez, Koike disse que não tem intenções de permitir que todos os membros democráticos concorram pelo seu partido.

“Sou uma pessoa que está sempre pronta para a ação”, garantiu Koike, rodeada pelos colaboradores. A antiga ministra da Defesa – no primeiro governo de Abe (2006-07) – explicou que não será ela própria candidata, preferindo dedicar-se ao governo de Tóquio, uma vez que a capital japonesa prepara os Jogos Olímpicos de 2020, evento que Koike acredita ser “benéfico para o Japão como um todo”.

De jornalista a política
Nascida e criada em Ashiya, um subúrbio abastado de Kobe, Koike aprendeu a gostar de política com o pai, um empresário que chegou a ser candidato às eleições de 1969. Foi também ele quem lhe explicou a importância de reforçar as relações com os países árabes, o que a levou a estudar árabe no Cairo.

Brevemente casada com um colega da Universidade Americana, Koike divorciou-se e trabalhou como intérprete antes de se tornar jornalista, tendo entrevistado líderes como o líbio Muammar Kadhafi ou o palestino Yasser Arafat. Em 1990 recebeu o prêmio de melhor âncora de notícias do Japão.

Dois anos depois, era eleita para a Câmara Alta do Parlamento, antes de, um ano depois, passar para a mais poderosa Câmara Baixa. Em 2002, aderiu ao PLD, tornando-se ministra do Ambiente, uma década antes de ser a primeira mulher à frente do Ministério da Defesa japonês.

A lealdade ao PLD chegou ao fim em 2016, quando desafiou o partido para se candidatar como independente a governadora de Tóquio. Venceu de forma esmagadora. Desde então, o seu Partido da Esperança veio ganhando força, atraindo até várias figuras do PD.

Profunda conhecedora das técnicas de comunicação, não só chegou à Câmara de Tóquio numa cadeira de rodas, após ser eleita, para sentir a angústia dos deficientes e ajudar a resolver os seus problemas, como ontem (28), antes do discurso, posou para os fotógrafos ao lado da imagem de uma cria de panda nascida no Zoo de Tóquio.

Em termos políticos, Koike e Abe não são muito diferentes – ambos conservadores próximos do grande capital e falcões em termos de defesa -, mas há duas áreas em que divergem. Ele prometeu aumentar o imposto sobre o consumo em 2019 para financiar os gastos com educação e cuidados com os idosos, enquanto ela defende o congelamento dos impostos.

Além disso, enquanto Koike apela ao abandono do programa nuclear após o acidente de Fukushima em 2011, Abe apoia reativar os reatores.

Pesquisas de intenção de voto
A última sondagem do jornal ‘Mainichi’ aponta 18% de intenções de voto ao Partido da Esperança, ainda longe dos 29% do PLD, enquanto um estudo do instituto ‘Asahi’ dá 13% à formação liderada por Koike, ainda mais longe do partido de Abe, com 32%.

Mediante isso, poucos analistas acreditam numa vitória do Partido da Esperança, mas muitos estão convencidos de que pode pelo menos tirar de Abe a maioria de dois terços no Parlamento, essencial para o seu sonho de alterar a Constituição pacifista imposta ao país após a Segunda Guerra Mundial.

Perdendo ou não nessas eleições, a verdade é que Koike está cada vez mais perto de se tornar a primeira mulher a comandar o Japão, um país de elites políticas masculinas, de quebrar a “placa de chumbo”, como ela própria a define, que afasta as mulheres do topo do poder.

Fontes: NHK World News. | Jornal DN.


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