O cinema como marca da cultura e visão de mundo do Japão

Artigo é voltado para o cinema como forma de analisar e conhecer mais profundamente a riquíssima cultura japonesa.
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Atualizado em 26/09/2024

A cultura japonesa é vista nos dias atuais como uma das mais tradicionais de todo o mundo e, ao mesmo tempo, uma das mais populares. É possível ver reflexos dessa cultura em vários países, em retratos como filmes, músicas, jogos, desenhos animados e histórias em quadrinhos. Estes últimos dois, conhecidos mundialmente como anime e mangá, respectivamente.

Ainda, à primeira vista para o mundo ocidental, a cultura japonesa apresenta equilíbrio em sua arquitetura, arte, estética e até na questão gastronômica. Afinal, basta comparar o sushi (onigiri) consumido no Brasil e o sushi original para notar um pouco do contraste neste equilíbrio.

Além do mais, a questão organizacional presente nas culturas e tradições japonesas é tamanha, que é possível buscar inspiração nestas raízes para desenvolver uma vasta gama de projetos, como ideias para TCC em logística, registros culturais e históricos e até a maneira como é desenvolvido o trabalho nesta sociedade.

Portanto, para conhecer um pouco mais da cultura japonesa e adquirir diferentes visões de mundo que, eventualmente, podem ser extremamente úteis para a disciplina e o comprometimento, nada melhor do que avaliarmos alguns autores, obras e traços culturais desta civilização.

O cinema japonês e o equilíbrio de seus autores

Cena do FIlme Era uma vez em Toquio Foto Media Commons
Cena do filme Era uma vez em Tóquio | Foto: Media Commons

Apesar de o Japão ser mundialmente conhecido, dentre muitos fatores, por seu desenvolvimento de jogos eletrônicos e jogos online para a sociedade –este trabalho é visto já há anos através de estúdios como a Nintendo, e atualmente a Kojima Studios– o cinema japonês é extremamente respeitado internacionalmente já há vários anos.

Além disso, é essencial analisarmos o Cinema para a compreensão cultural de uma sociedade, uma vez que esta arte remete a traços como: conflitos sociais; contexto histórico; relações políticas do país; repressão artística.

Logo, ao analisarmos uma obra cinematográfica, podemos olhar através de uma lente de aumento o contexto e realidade de um povo em determinado momento da história.

Entre os vários diretores japoneses extraordinários, existem dois diretores fundamentais para o desenvolvimento do Cinema no Japão e para sua ascensão e reconhecimento mundial.

São eles: Akira Kurosawa e Yasujiro Ozu e ambos foram dos mais prolíficos diretores de todo o Cinema japonês. 

Yasujiro Ozu e a transformação social no pós-guerra
Cineasta japonês Yasujiro Ozu | Foto: Media Commons
Cineasta Yasujiro Ozu | Foto: Media Commons

Ozu, ao longo de sua carreira como cineasta, realizou mais de cinquenta filmes, passando por gêneros como a comédia, mas, possuindo uma clara ligação com o drama familiar.

Contudo, Yasujiro Ozu é considerado um mestre na hora de retratar relações humanas e como elas são construídas ao longo do tempo em seu contexto social e histórico.

Os filmes considerados essenciais dentro de sua filmografia são “Pai e Filha” (1949) e “Era uma vez em Tóquio” (1953). Como Ozu produziu estes filmes nos anos seguintes do final da Segunda Guerra Mundial, nestas obras são retratados temas relacionados ao comportamento e aos anseios da sociedade no pós-guerra, tais como relações humanas, bondade, egoísmo, passar do tempo, cotidiano, transformação da sociedade.

Logo, na carreira de Ozu, o contexto histórico de transformação vivido no Japão da década de 50 foi o suficiente para as lentes de Yasujiro Ozu estarem voltadas para relações íntimas entre familiares e amantes e o cotidiano japonês em um período de transformação social. 

Ademais, Ozu nasceu no ano de 1903 e iniciou sua carreira na sétima arte durante a era do cinema mudo japonês. Chegou a realizar comédias, mas a partir da década de 1930 passou a dar mais enfoque a temas sérios e sociais.

O cineasta produziu mais de 50 filmes, desde 1927, com “Zange no Yaiba”, até 1963, com “Sanma no Aji” (A rotina tem seu encanto).

Akira Kurosawa e o cinema japonês como referência no mundo
Akira Kurosawa | Foto: Media Commons
Akira Kurosawa | Foto: Media Commons

Kurosawa é provavelmente o maior nome da história do cinema japonês e um dos maiores cineastas da história do cinema como um todo.

Akira iniciou sua carreira em meados da década de 1930, mas apenas na década de 1940 que iniciou seus trabalhos como diretor.

Na década seguinte, em 1951, Kurosawa foi vencedor do Festival de Veneza com o filme As Portas do Inferno (Rashomon), o que mostrou para o mundo o talento do cineasta e foi responsável pela criação da categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar.

Akira Kurosawa | ©Asahi Images
Akira Kurosawa | ©Asahi Images

Ou seja, a partir da exibição de As Portas do Inferno no Festival de Veneza, o mundo não só reconheceu Kurosawa como um grande nome do cinema, mas também Hollywood passou a voltar seus olhos para o mercado estrangeiro de filmes.

Contudo, diferentemente de Ozu, Akira Kurosawa dialoga com diversos gêneros cinematográficos ao longo de sua carreira.

Contudo, seus filmes de maior renome possuem um enfoque claro em épicos japoneses, na violência urbana e no drama.

Filmografia

1993 — Madadayo (Ainda Não!)
1991 — Hachi-gatsu no kyoshikyoku (Rapsódia em Agosto)
1990 — Yume (Sonhos)
1985 — Ran (Os Senhores da Guerra)
1980 — Kagemusha (A Sombra de um Samurai)
1975 — Dersu Uzala (A Águia das Estepes)
1970 — Dodeskaden (O Caminho da Vida)
1965 — Akahige (O Barba Ruiva)
1963 — Tengoku to jigoku (Céu e Inferno)
1962 — Tsubaki Sanjuro (Sanjuro)
1961 — Yojimbo (O Guarda-Costas)
1960 — Warui yatsu hodo yoku nemuru (Homem Mau Dorme Bem)
1958 — Kakushi toride no san akunin (A Fortaleza Escondida)
1957 — Donzoko (Ralé)
1957 — Kumonosu-jo (Trono Manchado de Sangue)
1955 — Ikimono no kiroku (Vivo no Medo)
1954 — Shichinin no samurai (Os Sete Samurais)
1952 — Ikiru (Viver)
1951 — Hakuchi (O Idiota)
1950 — Rashomon (Às Portas do Inferno)
1950 — Shubun (O Escândalo)
1949 — Nora Inu (Cão Danado)
1949 — Shizukanaru ketto (Duelo silencioso)
1948 — Yoidore tenshi (O Anjo Embriagado)
1947 — Subarashiki nichiyobi (Um Domingo Maravilhoso)
1946 — Waga seishun ni kuinashi (Não Lamento Minha Juventude)
1946 — Asu o tsukuru hitobito
1945 — Tora no o wo fumu otokotachi
1945 — Zoku Sugata Sanshiro
1944 — Ichiban utsukushiku
1943 — Sugata Sanshiro (A Saga do Judô)

Considerações

Apesar do enfoque deste artigo ser claramente voltado para o cinema como uma maneira de analisar e conhecer a cultura japonesa, ela é extremamente rica e é um erro reduzir toda cultura e tradições japonesas à filmes.

Contudo, o cinema se mostra desde sempre como uma ótima ferramenta de representação social, ou seja, através das lentes das câmeras é possível ver a realidade de uma determinada civilização em seu espaço e tempo.

Portanto, os exemplares vistos ao longo do artigo são responsáveis por nortear diversos livros, trabalhos de pesquisa, projetos de pós-graduação e até documentários. 

Logo, o cinema pode atuar como uma ferramenta para o aprendizado histórico, social e cultural de determinados povos ao longo da história.


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