Atualizado em 02/08/2023
Há muito que histórias de piratas famosos fascinam as pessoas, e os piratas japoneses não são exceção. Mesmo não tendo uma popularidade tão grande, os wokou/wako têm uma história fascinante.
O termo wako, em japonês (wokou em chinês e waegu em coreano) era utilizado para se referir aos piratas que atacavam as costas do Japão, China e Coreia desde o século XIII.
A origem do termo wako é variada, tendo mais de um significado. Um deles é “bandidos do país de Wa”, se referindo ao Japão, uma vez que Wa (倭, “Japão, japonês”) é o nome registrado mais antigo do Japão. Os escribas chineses, japoneses e coreanos frequentemente o escreviam o caracter Wa em referência a Yamato, mas no caractere chinês era traduzido para “anão” até o século VIII, quando os japoneses o substituíram por 和 (caractere atual de Japão), que significa “harmonia, paz, equilíbrio”.
Por sua vez, o termo wokou, que se traduz literalmente em chinês como “piratas japoneses” ou “piratas anões”, era uma forma depreciativa dos chineses denominar os wako. O termo é a combinação de Wo, referindo-se a anões ou japoneses, e kou “bandido”.
Originalmente, os wako eram ronin (samurais sem um senhor), comerciantes e/ou contrabandistas japoneses. Porém, durante os séculos, a prática de pirataria se estendeu a outros países da Ásia, principalmente os chineses, que passaram a fazer parte da pirataria nos mares asiáticos.
Desde o século 13 até meados do século 16 eram os wokou/wako quem dominavam o Mar da China Oriental e o Mar do Japão. Na época, esses piratas asiáticos invadiam as cidades costeiras em busca de recursos e regulavam o acesso ao litoral ao ponto de, para viajar com segurança, muitos pagarem para não serem saqueados.
Os wako foram um problema internacional para os três países asiáticos (Japão, China e Coreia), começando já em 1223, quando uma expedição de pilhagem japonesa viajou para a Coreia, provavelmente devido à fome e agitação social em razão do início do xogunato, quando a maioria dos samurais tornou-se ronin . Alguns estudiosos asiáticos dividem as incursões de pirataria na Ásia em “primeiro wako” (século XIII) e “final wako” (século XVI).
Na fortaleza da ilha Tsushima e a lendária batalha de Cagayan
A ilha Tsushima, no sudoeste do Japão, próxima à Coreia do Sul, é muito montanhosa, formando o cenário perfeito para servir de fortaleza e de sede principal dos piratas samurais, que trocavam mercadorias com os habitantes locais.
Os wako lutavam geralmente sem armadura, descalços e seminus, alguns a cavalo e com diversos tipos de armas. Saíam pelos mares em pequenos bandos para saquear e fugiam antes que as autoridades locais tivessem tempo de verificar as ocorrências. Em alguns casos, os saques de cidades maiores incluíam grupos de mais de 3 mil homens.
Em 1582, os wako travaram uma batalha digna de filme contra os espanhóis, quando 40 soldados enfrentaram mil samurais num confronto épico próximo ao rio Cagayan, nas Filipinas. Não tendo um final feliz para os samurais japoneses, essa foi uma batalha lendária da qual os ocidentais lembram quando o assunto são piratas japoneses.
Embora os piratas japoneses já não naveguem mais pelos mares, eles têm datas festivas, sendo relembrados todos os anos nas ilhas Shimanami com três festivais: o Festival da Ilha, o Festival da Água e o Festival do Fogo, este último com danças e fogos de artifício. Para quem visita a ilha de Setouchi, é possível conhecer o Museu Murakami Kaizoku, onde toda a história dos piratas japoneses é contada.
Existe um antigo pergaminho que conta uma boa parte da história dos wokou/wako. O pergaminho original está guardado no Tokyo Daigaku, Shiryo Hensango (Instituto de História, Universidade de Tóquio).
O eterno apelo dos piratas na cultura popular
Os piratas wokou/wako passaram um pouco despercebidos pela cultura popular ocidental. Talvez isso se deva por não seguirem o estereótipo dos piratas caribenhos, em sua maioria europeus, tão presentes no imaginário popular, visto que são retratados frequentemente pela indústria do entretenimento.
No entanto, a verdade é que o tema “pirata” parece apelar à curiosidade da maioria das pessoas e explica o sucesso de lançamentos de diferentes produtos sobre essa temática. Exemplos disso vêm do setor dos jogos e do ramo literário. Plataformas que permitem baixar jogos grátis mostram que jogos com temática sobre piratas, como “Pirates: Tides of Fortune”, são bastante procurados pelos internautas. Da mesma forma, livros como “James, o Capitão Gancho” são dos mais lidos e conhecidos entre o público.
Além disso, muitos outros exemplos de produtos mostram o apelo dos piratas na cultura popular, especialmente quando falamos da indústria cinematográfica ocidental e até japonesa. Um deles é “One piece: Stampede”, de 2019, filme da franquia de mangá e anime One Piece. Neste filme animado de ação e comédia, é retratada a maior exposição mundial de piratas feita para piratas.
“One piece: Stampede” é o 14º filme da franquia One Piece. Foi lançado no Japão em 9 de agosto de 2019 para comemorar o 20º aniversário do famoso anime pirata.
Ainda no setor do cinema, o enorme sucesso de bilheteria é, obviamente, “Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra”. Nesse longa-metragem de 2003, Jonhy Depp interpreta o icônico Jack Sparrow, um dos piratas mais famosos da história da ficção, inspirado no lendário pirata John Ward.
O sucesso foi tamanho que o filme tornou-se uma franquia, ganhando mais três produções em 2006, 2007 e 2011.
A verdade é que, independentemente dos mares pelos quais navegam, os piratas continuam rodeados de uma mística inigualável e provocam sempre curiosidade quando são mencionados.
A história dos piratas japoneses, apesar de não ser tão difundida, é bastante interessante, repleta de aventuras. Quem sabe em breve não vemos alguns roteiros ou produtos baseado nos wako e wokou.
== Por Maria Rosa / Mundo-Nipo
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