Showa no Hi: Dia da Era Showa

No dia de Showa no Hi os japoneses celebram o aniversário de Hirohito, Imperador que deu origem a era Showa.
Imperador Hirohito na decada de 1980 Foto Agencia da Casa Imperial
Imperador Hirohito na década de 1980 | Agência da Casa Imperial

 

O Showa no Hi (昭和の日) é primeiro de quatro feriados nacionais no espaço de sete dias que compõem o Golden Week (Semana Dourada), realizado no dia 29 de abril para comemorar o aniversário de Hirohito, Imperador do Japão e que deu origem a era Showa.

O Imperador Hirohito governou o Japão de 1926 a 1989, ou seja, antes e após a Segunda Guerra Mundial. Um dos objetivos dessa data é incentivar a reflexão pública sobre os turbulentos 63 anos de império de Hirohito.

Antes de 2007, a data era conhecida como o “Dia do Verde” ou “Dia da Natureza”, celebrado atualmente no dia 4 de maio. Contudo, muitos japoneses ainda dedicam o dia ao meio ambiente em respeito à Hirohito, que adorava plantas e tudo relacionado à natureza.

Hirohito foi o 124° imperador da ordem sucessiva e foi também o imperador que teve o maior tempo de governo. Nasceu em 29 de abril de 1901 e faleceu em 7 de janeiro de 1989. Seu governo foi marcado pelo fim da Democracia Taisho, a ascensão do fascismo, a Segunda Guerra Mundial e a ocupação do pós-guerra.

Após sua morte, foi enterrado no Mausoléu Imperial de Hachio-ji, ao lado do Imperador Taisho, seu pai. Sua morte trouxe um fim à era Showa e deu início a uma nova era conhecida como Heisei, era do atual Imperador Akihito.

Era Showa

Ao falar da era Showa, remetemo-nos naturalmente ao imperador Hirohito – nome que usava quando vivo -, que teve o mais longo dos governos no Japão moderno. De 1926 até 1989, portanto, por 63 anos o Imperador Showa governou um país que passou por uma guerra mundial, a responsabilidade e o peso da derrota, inclusive experimentando os horrores da bomba atômica, seguida de um intenso trabalho para a recuperação do país. Após a guerra, o imperador, até então considerado uma divindade, descendente da Deusa Amaterasu, declara ser um homem de carne e osso.

Falando pelo rádio para todo o país afim explicar a derrota, e mais tarde, caminhando pelos destroços e pedindo para que o povo tivesse esperança para reconstrução, ele assumiu a condição de um ser humano. Foi a primeira vez que a população japonesa ouviu ou viu seu líder de perto.

Todas as contradições do Japão estiveram presentes na era Showa. De nação bélica, o Japão se tornou um país pacífico, cujo espírito provém inclusive da cláusula de sua nova Constituição.

Quando o Imperador Showa recebeu o governo de seu antecessor Taisho, a crise estava instaurada. O malogro da democracia tinha criado condições para o fortalecimento de forças paralelas. Para piorar, o “crack” da Bolsa de Nova York em 1929 afetou a já debilitada economia japonesa. O desemprego chega a uma cifra assustadora: dois milhões de trabalhadores estavam fora das fábricas. Na zona rural, o preço dos produtos agrícolas chega ao ponto crítico. Em contrapartida, há o acúmulo de riqueza nas mãos dos capitalistas. Os partidos políticos estão ameaçados pela corrupção. Nesta instabilidade econômica e política nasce o germe do fascismo japonês. Trata­-se de um sistema populista centralizador alicerçado na figura do imperador como o único caminho que poderá conduzir o Japão para o desenvolvimento.

Cada vez mais aumenta a influência dos militares diante do fracasso do sistema democrático. O incidente que vai reforçar a expansão imperialista japonesa, sob o comando dos militares, é o de Manchúria. A força japonesa estacionada naquela província desde 1919 provoca em 1931 uma explosão na Estrada de Ferro Sul Manchuriana, pertencente ao governo japonês. A culpa recai sobre os chineses e com isso surge o argumento necessário para justificar uma agressão militar. Assim se inicia o ataque a cidades chinesas pelo exército japonês.

Com a tomada do território, é declarada a independência da Manchúria, colocando como regente Pu Yi, o último imperador da dinastia Ching, deposto pela república. Este Estado, controlado pelos japoneses, é chamado Manchukuo­ (Nação Manchu).

A situação interna no Japão não é das melhores. Não há liberdade de expressão. Os líderes socialistas, operários e liberais desaparecem de cena. São condenados ao ostracismo ou desaparecem nos porões da repressão.

Devido às campanhas militares na China, a economia japonesa encontra-se dilapidada e o comércio exterior impedido de se expandir por pressão dos aliados. Foi quando os Estados Unidos resolveu dar o golpe fatal. O governo americano suspende em 1939 a venda de matérias-primas e demais insumos industriais para o Japão. O petróleo seria uma delas.

Nenhum acordo com o presidente Franklin Roosevelt foi possível. Do lado japonês, o endurecimento das posições se dá com o ministro da Guerra, o general Tojo Hideki, que ascende ao cargo de primeiro ministro. O general não queria mais acordo com os Estados Unidos, preferindo a opção pela guerra.

Ainda não tinha amanhecido no Havaí, em 07 de dezembro de 1941, quando a aviação japonesa ataca a base norte-americana de Pearl Harbor. Em seguida, declara guerra aos Estados Unidos e Inglaterra. Mas a entrada do Japão na guerra estava fadada ao fracasso. Já em 1942, os japoneses davam sinais de debilidade nas guerras do Pacífico.

Derrotado na guerra, o Japão precisa ser reconstruído e adaptado à modernidade. No entanto, teve que arcar com as dores que fora infligida ao seu povo.

As forças aliadas ocuparam o Japão no ano de 1945, sob o comando do general Douglas Mac Arthur. O período da ocupação americana estabeleceu-se entre 1945 a 1951, que serviu como incentivo para o Japão retomar o caminho do desenvolvimento. Foram eliminadas as ideias bélico-imperialistas e restaurada a democracia. Uma década depois, o Japão mostrava sinais de recuperação, e daí surgiu à famosa expressão “Milagre japonês”.

Algumas décadas foram necessárias para colocar o Japão entre os países adiantados. Se no início os produtos japoneses eram considerados baratos e ruins até pelos próprios japoneses, em pouco tempo o país passou a ameaçar os Estados Unidos como segunda potência econômica. Assimilando bem os ensinamentos dos americanos quanto ao aumento de produtividade e melhoria de qualidade, os japoneses passaram a adotar métodos de trabalho que hoje são utilizados no mundo inteiro, que visam, principalmente, a eliminar o desperdício no processo industrial. Na área comercial, os japoneses ganharam dos americanos em muitos segmentos. Produtos japoneses invadiram as lojas dos Estados Unidos.

O grande desenvolvimento econômico do Japão provocou, a partir da década de 80, um movimento inverso de imigração, comparado àquele do início do século. Os nikkeis do Brasil, do Peru e dos demais países sul-americanos estão retomando ao Japão como mão de obra não especializada. São conhecidos como “Dekassegui”. Sonham retomar ao Brasil após alguns anos de trabalho no Japão. Por isso, trabalham arduamente a fim de poupar o suficiente para montar um negócio próprio ou adquirir bens no Brasil. Isso nem sempre se realiza. Depois de retomarem ao Brasil, passado algum tempo, voltam ao Japão. E o ciclo volta a se repetir enquanto não conseguem garantir uma estabilidade financeira. A comunidade brasileira no Japão é grande e com isso muitas casas de espetáculos procuram programar shows de música brasileira, enquanto muitos supermercados oferecem comidas típicas. É a cultura brasileira chegando naquele país.

Em 1989, os japoneses choram a morte do Imperador Hirohito, que acompanhou os momentos mais difíceis do povo japonês. O imperador que assumiu a nova era, a de Heisei, o atual Imperador Akihito, foi o primeiro a se casar com uma moça plebeia, a Imperatriz Michiko, e também foi o primeiro a criar seus filhos em sua própria casa.

Apesar de a aparência sempre discreta da Família Imperial ter se mantido a mesma, transformações estavam ocorrendo dentro da milenar tradição. O príncipe herdeiro, Naruhito, seguindo o exemplo do pai, também se casou com uma moça sem laços familiares com a nobreza.

A era Showa foi, com certeza, um período conturbado, no entanto, apesar das dificuldades, o país superou todos os obstáculos.

“O Japão é sinônimo de superação. O nível de reorganização do povo japonês é algo incrível, chegando ao extraordinário”, disse Francisco Handa, falecido escritor brasileiro de origem japonesa.

“Ser um japonês é como estar sempre pronto para recomeçar, seja um reinício de pós-guerra, de tragédias naturais, como os grandes terremotos, ou tragédias causadas por bombas nucleares, como em Hiroshima e Nagasaki. Uma nação resiliente por natureza, que aprendeu com grandes perdas a necessidade de recomeçar e superar.”


Descubra mais sobre Mundo-Nipo

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Total
53
Shares
Veja mais dessa categoria