O governo do Japão está sob forte pressão para flexibilizar as restritivas regras de imigração, visto que não atingiu, “nem de longe”, sua meta para atrair mais de 300 mil trabalhadores estrangeiros e assim atender à demanda do mercado de trabalho nos próximos cinco anos.
Após anunciar a abertura para a imigração de jovens descendentes de quarta geração (yonsei, em japonês) nascidos em diversos países, incluindo o Brasil, o país aprovou apenas 1% dos pedidos de vistos esperados.
Entre 1º de julho de 2018, data oficial de início da nova regra, e 17 de junho de 2019, foram concedidos 43 vistos a bisnetos de japoneses, entre eles, 17 brasileiros. O índice surpreendeu negativamente. A expectativa era liberar 4 mil vistos ao ano.
Até então, o visto de residência era concedido apenas a postulantes nissei (filhos de japoneses) e sansei (netos de japoneses). Entretanto, apesar de sinalizar a intenção de abertura a novos imigrantes, o país mantém regras restritivas de imigração.
Para os yonsei, os pré-requisitos para residência incluem idade, de 18 a 30 anos no máximo, conhecimento da língua japonesa (nível 4 de proficiência no JLPT – Japanese Language Proficiency Test, ou nota mínima E no J.Test – Test of Practical Japanese) e viajar sozinho, já que não é permitido incluir a família no visto.
Além disso, o interessado deve passar por uma mentoria nipônica, uma empresa ou uma entidade deverá aconselhar o jovem imigrante sobre o aprendizado da cultura japonesa e periodicamente verificará sua situação de trabalho no país. Na prática, as exigências se tornam barreiras para jovens yonsei.
Diante do número de vistos aprovados aquém do esperado, discute-se a necessidade de abrandar critérios, como a certificação de conhecimento do idioma. No Brasil, descendentes fizeram uma petição para pedir a flexibilização das regras para yonsei ao Ministério da Justiça do Japão.
Demanda do mercado
Historicamente, a entrada de estrangeiros é um assunto delicado no arquipélago asiático. Atualmente, porém, a abertura a descendentes de quarta geração coincide com um momento de demanda no mercado japonês.
Em abril, passou a valer outro novo tipo de visto para estrangeiros especializados em 14 setores econômicos com alta demanda de mão de obra, como agricultura, construção civil e indústria hoteleira.
Ratificado pelo governo japonês em dezembro de 2018, o novo visto para trabalhadores tem duas versões: uma para profissionais qualificados, que poderiam viver até cinco anos no país, sem a família; outra para profissionais altamente qualificados, que poderiam pedir residência por tempo indeterminado, com a família.
Ambas exigem o aval de uma empresa e a aprovação em uma série de testes de habilidades, incluindo o domínio do idioma. Apesar da abertura, os critérios são rigorosos.
O governo japonês visava atrair 345 mil profissionais, não necessariamente descendentes, no prazo de cinco anos (47,5 mil ao ano). Entretanto, assim como no caso dos yonsei, o influxo de profissionais não atendeu às expectativas: apenas 895 vistos de trabalho foram emitidos até o início deste mês. Entre eles, 219 de fato migraram ao país no fim de setembro.
Discussões sobre a flexibilização de regras para a incorporação de imigrantes continuam a marcar o mercado, que não encontra jovens japoneses para preencher milhares de vagas. Registrando o menor índice de natalidade desde 1899, 1,4 filho por família, segundo dados de 2017, o país tem 1,63 empregos disponíveis para cada japonês. Além disso, o Japão tem a maior número de pessoas idosas do mundo (35,88 milhões ou 28,4% da população).
Mas apesar das pressões do mercado, ainda há forte resistência na incorporação de imigrantes no Japão. Diversas vezes, o primeiro-ministro Shinzo Abe negou a intenção de abrir portas a estrangeiros e frisou que a ideia é acolher trabalhadores apenas temporariamente.
“Esta não é uma nova política de imigração”, declarou. No fim de junho, porém, o país registrou o recorde de 2,83 milhões de residentes estrangeiros, entre eles, 196 mil brasileiros.
? Matéria atualizada em 28/11/2019.
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